![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyC9Whyphenhyphen59gA8uB2ntR90RtmyjWprfTBEDE_N2Bhk4T640urShfYYXXo9MnithcAs-6C2SbgcrgB2DKadBGAWllTVK7CgwPYmvWDBW100CkxmFstMjM-e6Zpk4p7Ajn4khBFmkQJFheC8Zq/s200/Picasso-BlueNude%5B1%5D.jpg)
Escrevo-te como a vontade que o corpo às vezes sente de ficar nu. Sim, nu. Iluminado, sem as sombras das vestes. Escrever-te e assim, dividir contigo minhas palavras. É como ficar nua à tua frente, sem desejo, sem alterar a respiração, sem alterar o ritmo do coração. Somente ficar nua e compartilhar contigo minhas palavras. Entretanto, tenho receio de que não dê a devida atenção a essas palavras que se mostram tão sinceras, claras, sem pudor. Em que momento da vida você se encontra? Sem saber ainda assim te escrevo, pois o que te escrevo tem a necessidade do teu olhar e, ao mesmo tempo, dele tem medo. Medo de não ser olhado e, se olhado, seja somente visto sem ser reparado. E, apesar dessa necessidade que sinto quando escrevo, o que escrevo não tem você como destino único. O que venho escrevendo é para o mundo. São palavras postas no universo que talvez não tenham a pretensão de tornarem-se públicas. Escrevo porque simplesmente as palavras vêm, surgem e, por isso, as materializo.
Contudo, nesse mundo que vai assim... você, hoje, é a única pessoa com as sensibilidades de que preciso. Você consegue se imaginar no mundo com vários tipos de sensibilidades em um mesmo corpo? Conforme o que se vive a nossa sensibilidade torna-se mais fina ou mais bruta. Afinada ou embrutecida. Às vezes, ela se parece com a couraça de um elefante que nem sente os pardais bicarem, a lhe comer seus carrapatos. Em outros momentos, ela é a tua pele, humana, como tocar pêssegos. E é dessas sensibilidades tuas de que eu preciso, pois conforme o seu estado, conforme teu estar, a leitura será bastante diversa.
O que escrevo está inscrito em nosso corpo. E é na nudez que devemos ser transcritos. Nas águas claras se mata a sede e dela retiro o que nutre. Quanto mais se bebe, maior a sede. Num mesmo corpo, há calma e aflição. Num mesmo olhar, a mesma solidão.
Dezembro de 2007.
À quem pertencer.
Imagem: "Nu de Dos" (Blue Nude) de Pablo Picasso.
é ímpossivel levar um barco sem temporais
ResponderExcluire suportar a vida como um momento além do cais
que passa ao largo...
escutava e de
repente achei aqui.
muito bonito, eu achei.