O blog

À princípio, este blog destinava-se para o registro de ideias, textos sobre montanhas. Porém, aquele que visita as montanhas, leva seu mundo particular, suas vivências, histórias para o interior das matas. E a Natureza o recebe gratuita e generosamente. Deste encontro, então, entre a Natureza e o ser humano, surgem reflexões e ensinamentos que invadem a vida na cidade. As montanhas, de algum modo, sempre nos surpreendem, sempre nos fascínam, sempre nos sensibilizam. Desse encontro, reflexões, ensinamentos e sensibilidade manifestam-se mesmo quando estou em meio à cultura urbana. Aqui estão algumas "piras" minhas, suas, nossas...


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A terceira face

Da próxima vez,
Vez ainda distante,
vou te parecer louca e
fingirei nunca antes ter te visto.

e você, crente da própria sedução,
vai apresentar

de um modo diverso do primeiro encontro,
a terceira face da tua estupidez.


Contita

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Florada por Márcia De Bernardo



Essa é uma obra da Márcia De Bernardo, Florada, apresentada IV Simposio Internazionale di Scultura Live que aconteceu de 6 a 10 de julho, Itália.

Esculpir. Trabalho impressionante para mim. Trabalho de verdade, criativo e não alienado.

Juntando pedaços

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cuando lejos, acercate

estás longe, distante
talvez séculos de continentes
entre nós

seus livros em outras estantes
seu olhar em outras luas
seus passos em outros corpos
somente, saudades suas

porém, encontro contigo,
todo dia
no céu vazio de punhos
nos corações silenciosos
que nada sabem de ti
nas músicas sem dança
nos passos sem compasso
que te esperam sem saber

te conto, rabisco
seus traços em muros
pela cidade
sussurro seu nome
no meio da praça
e te guardo com carinho
no meu sorriso mais distraído

estás perto, dentro
talvez segundos de grãos
em nós

e mesmo que não te viva
já não vivo sem ti.


Rafael Alencar

Compartilha

Meu coração sentaria à mesa
com três ou quatro outros corações,
dividiria o mesmo prato de comida,
ajeitaria cadeiras,
beberia da mesma garrafa o vinho,
e em meio a tanto carinho
ouviria um samba de sinceridade sobre amores.

amores que são o singular de amor
amor, é no minímo dois
não pergunta do máximo
tateia, procura algo além da fronteira
arrisca, sangra, bombeia
e para renascer, se desfaz em saudade.

Meu coração na realidade,
é do mundo pelo qual resolvi lutar
e por isso essa capacidade de amar

profundamente

um pouco mais que o usual
por isso ser considerado tão louco
num mundo tão pouco é mais que normal.


Por Rafael Alencar.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Negligência

É por vontade pouca que, por entre os seus dedos lhes escapa a prosa ou a rima da vida e, por pura indolência, deixam de trazer à tona o seu brilho. Demonstram uma apatia repulsiva diante da possibilidade de viver intensamente cada momento. É preciso alimentar o fogo da vida, como quem alimenta o fogão à lenha da casa das pessoas que amamos, para afastar o frio de suas vidas, momentos regados a bons goles de vinho. Seco, para lembrar que nem tudo é doce ou belo. Refuto a negligência com que vivem suas vidas, por medo de enfrentar suas dores.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Menina, menino
Não deixe de amar
O amor é o que há
Começa quentinho
E pode queimar
O amor amplifica
O amor simplifica

Gerador do motor
De revolucionar
O amor sempre estará
Louco para amar

(...)

Menino, menina
Não deixe de amar
O amor é o que há
Começa quentinho
E pode queimar
O amor modifica
O amor a modo de ficar


Partimpim

O trenzinho caipira

Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar...


Um dia, depois da descida da montanha, com suas mãos geladas acariciou a cabeça da menina, enquanto cantarolava o trenzinho caipira. Embalava os sonhos da menina, de a serra do mar percorrer sem destino...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

No Caminho com Maiakóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.

Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Por Eduardo Alves da Costa.
Niterói, RJ - 1936


Foto: o poeta, Eduardo Alves da Costa.

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